A questão ÉTICA, sempre presente, está relevante, como jamais, nos tempos atuais. Por vários anos, inclusive até o momento, tenho feito parte de comissões de ética médica, em suas várias funções, junto ao Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro.

Ao longo desse tempo, vejo colegas médicos e a sociedade considerando o Código de Ética Médica como um documento corporativo de proteção ao médico. Não vejo assim, muito ao contrário, creio que este importante documento está, em sua maior parte, voltado à proteção das pessoas, pacientes e clientes dos médicos.

Seguir com rigor o código de ética médica é cuidar do melhor modo das pessoas.

Atualmente, o cuidado das pessoas está cada vez mais complexo. Ao lado dos desafios da atualização científica, do uso da tecnologia, presencial ou à distância e da inteligência artificial, todos têm amplo acesso às informações e desse ponto de vista, fazem escolhas.

Difícil, também, tem sido cuidar com a participação ampla e necessária de tantos profissionais graduados e especializados que devem trabalhar de modo integrado e articulado para a saúde das pessoas.

Trabalhar em equipes é um desafio. Precisamos enfrentá-lo, pois, o resultado final para as pessoas é substancialmente melhor.

Por outro lado, fica um desafio: como trabalhar em conjunto? Como articular a integração do cuidado de profissionais com formações completamente diferenciadas? Como estabelecer um norte?

Ao se analisar os códigos de ética que regem o exercício profissional no campo da saúde e doença (médicos, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, engenheiros, educadores físicos, dentistas, etc.) vemos congruências e estruturas de códigos completamente diversas. Alguns dos códigos de ética são prescritivos em deveres, direitos, objetivando o que pode e o que não pode. Outros, são descritivos de princípios e valores, alguns guardiões de princípios de cidadania.

A atuação no campo da qualidade de vida, bem-estar e saúde nas organizações, é, por base, terreno da atuação de inúmeros profissionais do campo da saúde, da gestão e dos negócios.

Como fazer a convergência para a qualidade de vida a partir de códigos de ética especializados, uni profissionais?

Ao longo do tempo participei de várias iniciativas sobre como trabalhar em conjunto em programas e iniciativas de qualidade de vida em corporações. Algumas vezes com sucesso e muitas com insucesso. Por vezes, ficamos presos aos códigos de ética de cada um. Não evoluíamos.

Vejo que o ponto de convergência a pessoa. É, em nome dela que devemos atuar.

Programas de qualidade de vida corporativos provêm resultados para as organizações e para as pessoas. Entretanto, atuam com as pessoas, seja individualmente, seja em abordagens em grupos ou mesmo na remodelagem de processos de trabalho.

Cada atuação de profissional no campo de saúde, com seu respectivo código de ética, precisa convergir para as pessoas. Guardadas as especificidades de cada profissão, evoluir é preciso, coordenado esforços, atuando em conjunto, ao mesmo tempo, tudo em benefício da pessoa.

Ao rever a literatura, encontro duas referências que buscaram a convergência da atuação de profissionais de formações diversas, estabelecendo códigos de ética multiprofissionais.

São elas:

• A ICOH e a ANAMT publicaram o CÓDIGO INTERNACIONAL DE ÉTICA PARA OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO TRABALHO que tem como motivos, entre outros “ O primeiro motivo é o crescente reconhecimento das complexas e, às vezes, concorrentes responsabilidades dos profissionais de Saúde e Segurança no Trabalho, em relação aos trabalhadores, aos empregadores, ao público em geral, à Saúde Pública, às autoridades do Trabalho e a outras entidades e atores, tais como a Previdência Social e as autoridades judiciais. O segundo motivo é o crescente número de profissionais de Saúde e Segurança no Trabalho, resultante do estabelecimento de Serviços de Saúde e Segurança no Trabalho, quer em função de exigências legais, quer em caráter voluntário. Ainda, cabe salientar o crescente desenvolvimento do enfoque multidisciplinar em Saúde e Segurança no Trabalho, o que implica o envolvimento de especialistas de distintas inserções profissionais.
  • o Sugiro a leitura do texto em: http://www.anamt.org.br/site/upload_arquivos/arquivos_diversos_28420161611117055475.pdf
• A EAPA (International Employee Assistance for Professional Association) é a instituição que rege os programas de assistência ao empregado (EAP) em todo o mundo, programas estes desenvolvidos em inúmeros países, do oriente ao ocidente, conduzidos por profissionais de formações e culturas próprias. Claro, requeria um código de conduta comum para o campo de atuação dos EAPs. Assim feito, atuar nessa área requer a adesão aos princípios ali determinados
  • o Sugiro a leitura do texto em: http://www.eapassn.org/Portals/11/Docs/About/EAPACodeofEthics0809.pdf

O campo da qualidade de vida, em especial no segmento corporativo, tem sido inundado por iniciativas próprias de empreendedores, de formações diversas, geralmente atuando de modo avulso, competitivo e predador, focado no prestador e não no cliente – a pessoa.

Atualmente, códigos de ética como o médico, de enfermagem e de nutrição, por exemplo, estão em revisão para permitir sua contemporaneidade.

Os tempos atuais exigem que avancemos. A opinião pública tem sido o motor de muitas mudanças.

Poderemos evoluir, construindo um norte para tantas experiências, muitas bem-sucedidas, e tantos profissionais realmente comprometidos com a vida das pessoas.

Creio ser o momento destes profissionais iniciarem um debate voltado para a construção de um código de ética para profissionais de programas de qualidade de vida ou mesmo a simples elaboração de um conjunto de princípios e valores comuns a todos.